ESPOSENDE E O SEU CONCELHO


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quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

Republicação

Um recreio atribulado…

 Já em pleno Julho de 1962, com o sol a suspirar a neblina matinal,  a Escola Primária de Esposende respirava  de entusiasmo e de alegria com os seus alunos fervilhando  a sua incontida energia,  nas suas correrias, jogo aos ladrões e  “aí vai peixe”, eram aqueles minutos muito saborosos, fora da sala de aula e longe das canas e da  repressiva palmatória que a “criançada” tanto se atemorizava..

 O professor Carlos M. estava a conversar com o seu amigo João Conde, deambulando pelo pátio interno da escola, era o momento certo para desfrutar da pouca liberdade que as crianças dispunham na escola e o recreio era o espaço ideal para abraçar essa mesma liberdade tão desejada!

 Com a mesa de “pingue pongue”, colocada ao fundo do corredor da escola, o Romão, o Fernando Quintino e o Torradinhas,na companhia de outros colegas, andavam à roda da mesa ao “apanhas”, com o professor Carlos M. junto ao portão da entrada, despedindo-se do deu amigo João Conde Evangelista. O Fernando, que andava com os seus socos,- calçava os sapatos apenas aos domingos para ir à missa-, não esteve com “meias medidas”, apontou a arma-soco- à cabeça do Torradinhas, que habilmente se esgueirou, e o “projéctil”atingiu um dos vidros da Escola e foi uma “estardalhaço” que alvoraçou toda a gente e, passados segundos, veio o professor Carlos M. , com o seu ar altivo e “caústico” e mandou os “beligerantes” para a sala, menos o Torradinhas que já tinha desaparecido a “sete léguas”no momento do incidente.Quando “cheirava a esturro”, o amigo Torradinhas, fugia a “sete ventos”…

domingo, 18 de dezembro de 2022

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

 Republicação

 Os engraxadores de Esposende

 


         Tendo como palco de trabalho, a Praça do Município, os engraxadores de Esposende constituíram um pequeno estrato sócio-profissional deveras importante, iniciando a sua atividade na década de 60 prolongando-se ao longo de vários anos.

Foram inúmeros os engraxadores que trabalharam, assiduamente, nessa Praça do Município, debaixo das árvores, engraxando as botas e os sapatos  aos  sábados e, especialmente ,aos Domingos, depois da missa, onde a clientela se aglomerava para uns “bate-papos”, raramente comentando as homilias proferidas pelo senhor Arcipreste.

O “pomo” das discussões eram os jogos do Esposende Sport Clube – ESC- e das jogadas do Fernando Inheco, do Leonel Laguna ou das grandes defesas do guarda-redes Mó, sendo evocado o excelente convívio entre o Esposende e o Cabeceirense cujos dirigentes e jogadores, no final dos jogos, confraternizavam entre si, com jantaradas e apetitosos lanches, estando sempre presente, a “vinhaça” e as “cervejolas”…

         Era um "corropio" constante de clientes que se aperaltavam aos domingos, com os seus sapatos espelhados, alguns de verniz e a fatiota passadinha a ferro de engomar  e a camisinha "Terylene-TV".

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

 

 A lampreia desovada…

Finais da década de sessenta, “cheirando”  o final do ano de  1968, o verão tinha chegado  e a “seita” da ribeira, os nortenhos, comandados pelo Aré Mendanha, com a sua “farda esfarrapada”, camisa sem botões e calças com uma coleção de remendos alinhavados, preparava-se para as suas aventuras em terra ou no rio, de preferência, onde se sentia “como peixe na água”.

Era um grupo de crianças, sempre alegres e hábeis na aventura porque os brinquedos na época, não abundavam e  havia  fome e miséria, em diversos extratos sociais, da então vila de Esposende, e a RUA era o local para espraiar  o direito e o desejo de brincar, num convívio interativo com a Natureza: rio, mar, terra-ribeira, Pinhal Careca,  Campos de futebol- do Serralheiro, do Emilinho, Faustina, Junqueira, Ribeira, Pinto entre outros,

Nessa altura, era uma geração de ribeirenses bastante diversificado- Luciano Garcia, Arnaldo , Adriano Vareiro, Carlitos, Abílio, Santos, Toninho Batecas, Alfredinho, Zé do Fá,  Armindo, Pezinho Arrebita, Marques , Gomes, Duarte,…- e todos eles constituíam um grupo unido na “arte de brincar” e mesmo de sobreviver…

Quando  as calças estavam molhadas,  colocava-as a secar , nos varais da ribeira ou no monte das silvas e andava de cuecas que pareciam uma rede de pesca…

Estávamos no período da pesca à  lampreia, já no seu declinar, e este”King” da ribeira, sabia que a tia Quina do Guedes e a Tia Ção do Tatá,  queriam lampreias para vender aos banhistas de Braga e  nada melhor que uma incursão nas águas cristalinas do nosso rio Cávado, à procura do desejado  ciclóstomo”.

O Aré,  sempre descalço, porque o par de sapatos que tinha em casa, era para os domingos e dias festivos, decidiu fazer uma travessia no rio Cávado, com os seus “súbditos” – Marino, Santos, Guedes, …- e deslocando-se para a rampa sul,  começou a nadar para as “croas”-areais no meio do rio…-  na esperança de encontrarem uma lampreia  perdida ou desorientada e deu-se um milagre:

- Marino, apanhei uma lampreia e  é “taluda, gritou o Aré  com os seus “sete foles”!

- O Santos espantado pela façanha do seu amigo,  gritou:

- Aré, anda para terra e vamos já vendê-la à tia Quina do Guedes que ela tem clientes, isto perante o ar impávido do Marino…

Com a lampreia já em terra, bem transportada e agarrada nos  sólidos dentes do Aré,  foi levada à casa do Guedes onde se encontrava a tia Quina à porta observando alguns  turistas, pescadores desportivos,  a comprar isca à tia  Maria  Fifas,  no bairro de S. Vicente de Paulo.

A tia Quina ao ver a lampreia , comprou-a, num “abrir e fechar de olhos” mal ela sabia que a lampreia estava desovada, já que o seu aspeto não enganava…

O Aré, acompanhado com os seus comparsas, quando  recebeu cinco “croas “das mãos da tia Quina, acelerou a grande velocidade e só parou na padaria Beirão, onde comprou uma sêmea e duas” bicas” e estava o dia ganho para esses “mariolas”!

 Meu Deus, Marino, a tia Quina vai-nos matar quando olhar para a lampreia desovada que parecia uma “defunta”…

A “comandita “fugiu a sete pés” , em direção à ribeira, onde  se realizava um jogo de futebol Norte-Sul, entre os tripulantes das traineiras; Tonó, João Careca, Guimarães, Alfredo, Nibra, Guedes, Quico, Passos, “Morrosol”, Saganito, Miquelino,Mó,  em suma , a “velha guarda”,  veterana mas sempre bem dispostos e aguerridos durante o jogo, já que se jogava a dinheiro ou a rodadas de vinho-tigelas/malgas na Tasca da Zeza da Labrista, Abilio Coutinho ou, algumas vezes,  no Barrigana ou Marino. Durante o jogo, sem árbitro, “berrava-se” mais do que se jogava e as discussões eram frequentes e  a “porrada” era um pouco habitual e quando acontecia, o jogo acabava…

  Junto a uns juncos, no paredão do rio, “ este maralhal” sentou-se e encheu o “bandulho”  com a sêmea e alguma fruta “surripiada” do campo do Mota Campos, num dos seus habituais, assaltos à fruta e com a  “morte da fome”, sempre momentânea, nada melhor que uns mergulhos nas “escadinhas” para  comerem uns tremoços da Tia Amália que estavam sempre a “curar”  no fundo do rio, perto das famosas “escadinhas”… Uns buracos nos sacos de serapilheira e os tremoços  depressa viajavam para os estômagos  destes “meninos do rio”…

 No final do repasto, houve uma reunião junto ao Salva-Vidas, na rampa  norte, perante os olhares atentos do Tio Abílio e da Tia Esmeralda, porque nunca era de confiar nestes  mandriões e estava em discussão,   uma nova aventura…

Para o dia seguinte, foi programado um assalto às uvas e figos ao campo do  Zão , que estava sempre vigiado pelo intempestivo Adolfo que chegou mesmo, a agarrar o famoso Aré, já com uns cachos de uvas por debaixo da  camisola, e deu-lhe uma valente “trepa” que ainda hoje, dia 5 de setembro de 2022, o  Jorge Mendanha- Aré- se recordou no café Cine, quando tomava o seu café, com o seu grande amigo e cunhado Zé Fidó!

 “Velhos tempos”, desabafava, numa breve conversa, este nosso amigo Jorge Mendanha, na ribeira e no futebol, era conhecido pelo epíteto de Aré!

Como “Aré”,  praticamente nasceu, e  como  Aré, um dia, morrerá, com este apelido de que ele se orgulha, como símbolo de uma infância e juventude  de que muito se orgulha.

 Agora, o nosso amigo Aré, assinante e amante do Jornal Farol de Esposende, vai viajar amanhã, dia 6 de setembro, para a Córcega, um emigrante que nunca se esqueceu e jamais  se esquecerá  de Esposende, sua terra Natal.

 Confessava-me ele:

 Carlinhos, o que gosto mais gosto de ler, na Córcega,  no  nosso jornal-Farol de Esposende- é o” Neco e o Bóias” porque  faz-me lembrar a minha infância e juventude…

 Boa viagem amigo, para as terras , não da “Sardinha”-Sardenha- como dizia o Tachi, mas, para a Córcega ,  para junto dos teus familiares…

                                                                                              

 “O Bóias”

Carlos Manuel de Lima Barros

Esposende, 4 de setembro de 2022

 

domingo, 28 de agosto de 2022

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

A água e o vinho…

Numa curta “viagem investigativa”,  nos meados de outubro de 1906, a um jornal mensal de Esposende, anunciava-se  o problema da falta de água que se fazia sentir nesses últimos meses e apelava-se à necessidade, com o máximo de interesse, na exploração das águas do Bouro.

Passados “longos tempos,” precisamente 196 anos, o problema da falta de água prevalece não só em Esposende, como no resto do País e urge tomar medidas sérias para debelar esta escassez, deste “precioso líquido”.

 Contudo, nessa publicação, esse jornal realçava a boa colheita de vinho, superior à do ano transato, quer na quantidade, quer na qualidade, sendo o melhor vinho , vendido entre 15 a 15.000 reis e  ia mais longe:

-“O novo ano há-de ser abundante em rixas, havendo grossa pancadaria e grande número de cabeças quebradas” e terminava com este “snobe”“adágio popular”:

- “ Deus superomnie”…

Por Esposende, as tascas ou tabernas eram frequentadas normalmente, por homens contudo, em determinadas aldeias/freguesias,  as mulheres eram assíduas nesses espaços, como em Vila Cova com a Maria da Branca, Catarina, Tapita e Maria Chêla, a conviverem  alegremente com os homens bebendo as suas tigelas do bom vinho produzido nesta  freguesia barcelense. O Mendes, Dr. Vale Lima, Adélio, Alice, entre outros, eram “grandes produtores de vinho” que era vendido para várias localidades, como em Esposende, Góios, Marinhas…

 Esposende, 19 de agosto de 2022

 “BÓIAS”

C.M.L.B.

 

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

Uma rampa fatídica...

Alfredo de Sousa Costa, mais conhecido popularmente, por Alfredo da Mouca, foi carpinteiro de profissão, nasceu no longevo ano de 1910, data histórica da implantação da República Portuguesa, tendo emigrado para o Brasil a 19 de maio de 1952, onde residia na Rua Monte Alverne – 21 (dados fornecidos pelo Consul Geral da República Portuguesa no Brasil) 

Esteve embarcado no Navio de Fio – Brasil - tendo tirado o passaporte nesse mesmo ano de 1952 para permanecer no “País Irmão”.

Trabalhou em terras brasileiras durante sete anos para sustentar a família tendo regressado mais tarde, ao “seu”  Esposende.

A sua esposa Laurinda Augusta de Barros, falecida no dia 27 de Dezembro de 2001, teve de  “criar” os seus filhos, numa sociedade em que se vivia com extremas carências a todos os níveis e Esposende não podia fugir à regra…

De regresso das “Terras de Vera Cruz”, dedicou-se à pesca em Esposende, andou no barco “Três Marias” e na Motora do Carvalhal- “Candelárias” e,com  o seu trabalho, conseguiu arranjar pecúlio financeiro para apoiar, ao longo dos anos,  a sua numerosa família constituída por 11 filhos – 3 rapazes e 8 raparigas- .

O tio Alfredo tinha comprado o barco “Mar Sagrado” que era do Américo de Gandra e  lançou-se na faina piscatória,  sendo um bom pescador, embora de personalidade um pouco ríspida mas, era um homem muito correto e respeitador.

Da campanha do seu barco faziam parte o Eduardo Costa, Tio Tuta, João Mona, Zé Loureiro, Fofó e Manuel Costa, pescadores experientes embora alguns fossem jovens e com poucas vivências  das irreverências do pérfido mar.

Tio Alfredo do Mouco frequentava, no seu tempo de lazer,  a mercearia/armazém/tasco do AbilioCurvão , no Largo Rodrigues Sampaio e  no inverno com o mar ”a mais” , “mar cão” ou ” picado”, os pescadores ficavam em terra, sendo o local de convívio os tascos e em Esposende existiam alguns:  Lucas, Barrigana, Berta Bichesa,  António do Sul,  Lininha Patela,  Zezinha, Abílio Coutinho, Nazaré, Mário Casais, Zip Zip entre outros.

Um dia, o Carlinhos da Jandira estava de serviço ao balcão do tasco do seu tio Abílio Coutinho, servindo as malguinhas ou tigelas de vinho aos clientes habituais e o tio Rogério, era um desses habituais clientes. Numa tardinha friorenta, o Rogério estava junto aos sacos de milho que se amontoavam no armazém,  fora do balcão e olhou para o Alfredo do Mouco que, acabara de entrar no tasco e, após breve saudação, desafiou-o para uma aposta:

Alfredo, queres apostar que pego pelas orelhas deste saco de  milho, com os dentes e levanto-o no ar?

O tio Alfredo começou a coçar a cabeça e duvidou  da força dental do Rogério e, pensando, por breves  segundos, aceitou a aposta e quem perdesse, acrescentou ele,  pagaria duas tigelas de vinho.

O Lourenço, homem de recados, preparava-se para levar umas encomendas, vindas dos autocarros da “Viúva”, à Farmácia Monteiro e olhou, através dos seus óculos muito graduados, para os dois apostadores, de uma forma expectante.

O Tio Rogério, pleno de energia, fez “ginástica aos maxilares”  dirigiu-se para o saco, todo confiante e abocanhou  umas das orelhas da serapilheira e levantou o saco, uns dez  centímetros acima do  cimentado e frio chão da loja.

O tio Alfredo atónito e cabisbaixo, aceitou a derrota e, como homem honesto  mandou o Carlinhos pôr duas malgas de vinho para o Rogério que, num ápice,  as bebeu, para não “arrefecerem”, como habitualmente dizia.

Abílio põe no rol estas duas malguinhas que amanhã venho pagá-las, pediu o tio Alfredo, ao Coutinho.

Como homem honesto, no dia seguinte, pelas 15 horas o tio Alfredo lá foi pagar as malguinhas e a dívida foi "riscada" do “livro dos assentos” ou “borrão”.

O tio Alfredo nunca ia para o  mar, sem  primeiro o observar, e isso dava-lhe sorte, confessava ele aos seus amigos da faina e chegava a subir, em manhãs invernosas, por umas escadinhas da “torre de vigia”, uma  estrutura de ferro enferrujada pelo tempo, para verificar as condições do mar. Essa “torre” estava colocada num local estratégico, junto da casa do senhor Adelino Torres, no Largo Rodrigues Sampaio e dispunha de uma robusta  base de cimento, como alicerce.

 No dia 2 de agosto de 1967, o tio Alfredo ia na sua motorizada, buscar combustível para o motor do barco que tinha sido reparado por um técnico de Matosinhos e na subida da rampa da Rua Vasco da Gama, consumou-se uma tragédia: uma camioneta que ia para a Festa da Agonia, de Viana do Castelo colidiu com a motorizada, cujo motor tinha avariado, e a tragédia consumou-se e atropelou mortalmente este infortunado esposendense.

 Esposende “vestiu-se de luto” e aquela respeitável família ficou com dificuldades económicas mas, a solidariedade, palavra tão “deliciosa e humana” quando praticada, garantiu a sobrevivência dos filhos do Tio Alfredo e todos felizmente,  singraram na vida, tornando-se cidadãos respeitáveis.

A classe piscatória não se esquecerá do Tio Alfredo do Mouco muito menos o Carlinhos da Jandira que teve uma grande convivência, na loja/armazém doAbilioCurvão, onde no Inverno, quando o mar era agreste ou “mar cão” e não aceitava os pescadores no seu  regaço, o tio Alfredo ia beber a sua tigelinha de vinho e comer umas iscas de bacalhau feitas pela tia Alice.

O tempo não apaga da sua memória, os homens bons e o tio Alfredo era um desses ilustres esposendenses.

Neste dia 19 de agosto de 2022, ano das Comemorações dos 450 anos da elevação de Esposende a Vila e a  Concelho e na semana das Festas da Agonia, dedico este texto à família do malogrado e saudoso senhor Alfredo do Mouco

 Carlos Manuel de Lima Barros

Esposende, 19 de agosto de 2022

C.M.L.B.

domingo, 7 de agosto de 2022

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

 

Uma rampa fatídica... 

Alfredo de Sousa Costa, mais conhecido popularmente, por Alfredo do Mouco, foi carpinteiro de profissão, nasceu no longevo ano de 1910, data histórica da implantação da República Portuguesa,  tendo emigrado para o Brasil a 19 de maio de 1952, onde residia na Rua Monte Alverne – 21 (dados fornecidos pelo Consul Geral da República Portuguesa no Brasil)  

Esteve embarcado no Navio de Fio – Brasil - tendo tirado o passaporte nesse mesmo ano de 1952 para permanecer no “País  Irmão”.

Trabalhou em terras brasileiras durante sete anos para sustentar a família tendo regressado mais tarde, ao  “seu”  Esposende.

A sua esposa Laurinda Augusta de Barros, falecida no dia 27 de Dezembro de 2001,  teve de  “criar” os seus filhos, numa sociedade em que se vivia com extremas carências a todos os níveis e Esposende não podia fugir à regra…

De regresso das “Terras de Vera Cruz”, dedicou-se à pesca  em Esposende, andou no barco “Três Marias” e na Motora do Carvalhal- “Candelárias” e, com  o seu trabalho, conseguiu arranjar pecúlio financeiro para apoiar, ao longo dos anos,  a sua numerosa família constituída por 11 filhos – 3 rapazes e 8 raparigas- .

O tio Alfredo tinha comprado o barco “Mar Sagrado” que era do Américo de Gandra e  lançou-se na faina piscatória,  sendo um bom pescador, embora de personalidade um pouco ríspida mas, era um homem muito correto e respeitador.

Da  campanha do seu barco faziam parte  o Eduardo Costa., Tio Tuta, João Mona, Zé Loureiro, Fofó e Manuel Costa, pescadores experientes embora alguns fossem jovens e com poucas vivências  das irreverências do pérfido mar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

 

Ribeira de Esposende, espaço sagrado da minha infância… 

O verão, era a estação do ano, dos ribeirenses e as crianças do ” meu tempo”, saiam espavoridas, das soleiras das suas velhas casas e iam disparadas para a ribeira, descalças, ou calçadas com chancas, botas de borracha de avião, besuntadas com sebo do Talho do Júlio e do Jaime, da Rua Direita e o futebol esperava-as no ”relvado juncado e ensaibrado” da ribeira, onde a “erva  levava arda” com as pisadas que sofria, ao longo do ano.

 Na magia da ribeira, os dois selecionadores, Zé Feliz e João Café esperavam os atletas para o grande jogo que se avizinhava e as duas equipas eram logo  constituídas e a bola de capão do Zé Pancas, bem ensebada, estava debaixo do braço deste “rei dos Papeizinhos-cromos de futebol-“.

 Jogadores não faltavam e poder-se-ia  formar as equipas das reservas mas, o que interessava era jogar e os suplentes aplaudiam  ao lado das invisíveis marcações do campo da Faustina, o nosso Maracanã…Os atletas consagrados e “internacionais” vinham aquecidos de casa, nas correrias que faziam em direção à ribeira,  “bufando a sete foles” : Os  mais veteranos- Quim Tripas, Batista, Pompeu, “Sai Sai”, Luisinho, Romão, Saganito, Milo…-  andavam  em aventuras mais ousadas semeando “confusões” por onde passavam: assaltos à fruta, ataques ao canil do Matadouro, destruição de vidros, caçadas aos sardões e cobras na junqueira, para vender ao senhor Monteiro da farmácia, fugas à GNR,  ida aos ninhos, menos aos de poupas, ataque às cenouras e aos nabos, cortes dos rabos de “chicos” no matadouro Municipal e outras incursões aventureiras…Era a luta pela sobrevivência porque as famílias da época eram muito carenciadas.

domingo, 15 de agosto de 2021

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

 CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

                    A televisão a” gatinhar” em Esposende

                                        Dia Mundial da Televisão         

   O Dia Mundial da Televisão foi comemorado no dia 21 de novembro, sendo proclamado em 1996 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, tendo como primaciais objectivos promover o intercâmbio mundial de programas sobre a Paz, Segurança, Desenvolvimento Económico e questões sociais e culturais.

  Em 17 de dezembro de 1996, já com o período do Natal a “bater à porta”, a Assembleia Geral das Nações Unidas (A.G.N.U.), na Resolução 51/205, decidiu proclamar o  Dia Mundial da televisão em 21 de novembro, uma iniciativa considerada de grande impacto das Comunicações geotecnológicas no cenário mundial.

  A Televisão Portuguesa. RTP, Canal Estatal, iniciou as suas emissões experimentais a 4 de setembro de 1956, na Feira Popular em Lisboa, passando a 7 de março de 1957 às 21:30 a emissão regular e a RTP possuía  regras próprias que outros Países não dispunham, porque Portugal tinha os Meios de  Comunicação Social , sob o controlo implacável da Censura e só a queda do Estado Novo, a 25 de abril de 1974 concedeu uma maior liberdade e, por consequência, um  certo grau de independência da sua Programação.

   Em 1957 a televisão veio despertar muita curiosidade em Esposende e por todo o País em geral e nesta vila, banhada pelas águas serenas e despoluídas do  Cávado, poucas casas dispunham de televisão sendo  instalada publicamente, pela primeira vez,  na Casa do Povo de Esposende que funcionava nas tardes de sábados e domingos.

  O senhor Costa, residente  em Perelhal-Barcelos, era um funcionário da Casa do Povo , homem extremamente zeloso e amigo das crianças, e quando aparecia nessas tardes para abrir a porta,  inúmeras crianças esperavam-no para verem televisão geralmente desenhos animados-Gato Félix…- ou filmes de “Cow Boys” muitos apreciados pela criançada da ribeira que recebiam “formação” nesses filmes para as guerras norte-sul…

quinta-feira, 24 de junho de 2021

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

Republicação  
“Tiro aos vidros” 

   Esposende despertou pela manhã,  com os sinos da Matriz a dar as sete horas matinais.
  Já em pleno julho, as crianças fora da escola, gozavam as suas  férias tão desejadas para se deleitarem na ribeira com os seus varais, a sua relva despenteada e os juncos abanando como que acenando à miudagem para os levarem até às pocinhas do rio para  se encherem de  lagostas para o repasto matinal.
   Na rua Conde de Agrolongo, o Quim Tripas-Joaquim Eiras Gonçalves- já afinava a afunga e enchia os bolsos de godos, apanhados nos areais da praia ou nos montes de areia das casas em construção.
   A Rua 31 de Janeiro, o João Papinhas-João Adriano-  fugia pela porta fora, à socapa da mãe porque tinha combinado um encontro com o Quim Tripas, no matadouro para estudarem mais uma das suas  aventuras: tiro aos vidros…

domingo, 14 de março de 2021

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

As codornizes

Histórias da Guiné 

Existia no destacamento de Nova Sintra uma caçadeira de um cozinheiro que  tinha  sido comprada a um comerciante em Bissau, uma arma usada e que não revelava a mínima  segurança porque,  algumas vezes, os cartuchos rebentavam no cano, constituindo um perigo iminente.

Mas, os militares, muitas vezes arriscavam e, lamentavelmente, não olhavam ao perigo e foi o caso do furriel Barros que desafiou esse mesmo perigo.

Tendo como companhia o João cozinheiro, o Barros foi caçar, ao fundo da pista de aviação, onde abundavam muitas codornizes que estavam na fase da nidificação e, passados uns minutos, foi vista uma codorniz, empoeirando-se no chão.

Furriel, olha alí uma codorniz, está a vê-la, avisou o João Padeiro?

O Barros observou o chão e viu uma codorniz, muito imobilizada e com a arma carregada, disparou um tiro e, passados segundos, uma codorniz levantou , para o meio de um canavial.

O João apreensivo e moralizador com o resultado do tiro, disse ao Barros que se esquecesse, pelo menos, feriu a codorniz que supostamente, tinha caído no referido canavial, animou o seu amigo.

Os dois caçadores tinham percorrido  vinte  metros e, mais  um pouco adiante, o João gritou a “sete foles”:

- Furriel, olha estão duas codornizes ali mortas com o seu tiro!...

domingo, 28 de fevereiro de 2021

 CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

por Carlos Barros

Fuga da “beijuda….” 

    O 3º Grupo de Combate dos “Mais de Nova Sintra” foi garantir a segurança da estrada Tite-Enxudé, um acesso  de extrema importância, uma vez que o cais do Enxudé,  garantia o acesso, por via marítima e fluvial, à cidade de Bissau, através da utilização de pequenas embarcações para o transporte de tropas, material de guerra e outras mercadorias..

     No seu abrigo, o Barros entretinha-se a comer  castanhas de caju oferecidas por um grupo de crianças que, geralmente, recebiam sopa quentinha vinda da cozinha de Tite, que era pedida pelo furriel Barros.      

  Sobrava sempre sopa já que, a maioria dos soldados, não a comia e, deste modo, “matava-se a fome” aquelas gentis e simpáticas crianças que, com os seus sorrisos, alegravam o ambiente.