ESPOSENDE E O SEU CONCELHO


quarta-feira, 25 de março de 2015

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR

 CANTINHO DOS LOBOS DO MAR
por Carlos Barros

  Os dois esfomeados...
  A motora “Mar obedece a Jesus”,  com a sua tripulação- Rogério, Tone Passarinho, Agostinho, Tone Paquete, “Arrebita” e Quico - o mestre da motora- encontrava-se em Sagres, no ano de mil novecentos e oitenta e seis, na sua faina piscatória.
  Uns jovens ingleses, dois rapazes e uma rapariga,  encontravam-se  a passear numa avenida, quando reconheceram os pescadores de Esposende, sempre barulhentos,  que tinham ido  beber umas “taças” na taberna,  e abeiraram-se deles:
- Amigos, gostávamos de ir ao mar, podemos ir?
-O Tinocas prontificou-se a pedir ao Quico,  que estava  ao seu lado,  se poderia   levar os banhistas , que estavam numa colónia de férias , ao mar.
-O Quico, sempre disponível, acedeu ao seu pedido, combinando com os jovens estrangeiros, a hora da partida, para o dia seguinte.

  A motora partiu pelas cinco horas da manhã, com os jovens  no convés,  descontraídos junto à casa do leme, onde o Quico, com a sua experiência e saber,  tripulava a motora  em direcção ao mar, para alar as redes. Os tripulantes conversavam com o “Arrebita”  que dava  recomendações  aos jovens  para não enjoarem. Percorridas umas milhas,  o trio  inglês  já estavam  com ar de enjoados mas, sempre sorridentes.
  Chegados ao local, em pleno mar, os pescadores começaram a  alar as redes, com o Pezinho mais a observar que a trabalhar…Após umas horas de “alanço” a motora encheu-se de tamboris, lagostas, peixes-galos, salmonetes , sargos, douradas e   de outras variedades de peixes.
  Meu Deus, tanto tamboril, gritava o Agostinho para o Tone Paquete, que era o cozinheiro no mar, enquanto que o Agostinho, era mestre de “culinária” mas, em terra.
  O Tone Paquete olhou para o Quico, mestre sempre atento às agruras do mar, decidiu que o almoço seria  arroz de tamboril para toda a “companha” e o Arrebita e o Tone Passarinho, esfregaram  logo as mãos de contentes porque era o prato favorito deles.… O Tone pegou em três grandes tamboris, levou-os   para a improvisada cozinha no convés, preparou-os e fez uma “arrozada” de tamboril cujo cheiro se espalhou pela motora, perante a alegria dos pescadores, já que a “barriga batia horas”…
O Rogério Chana, olhou para o Paquete e disse-lhe:
Tone, estes “estranjas” vão comer connosco?
Claro que sim, respondeu prontamente o Tone,  que mexia o arroz que ia dançando  ao ritmo das ondulações do mar.
 Os ingleses foram servidos com o saboroso prato  e começaram a comer, deliciando-se com o saboroso arroz.
 Tone, eles vão comer mais arroz? Olha que eu e o Pezinho ainda não comemos, alertou o Rogério!...
Não faz mal que eles não comem mais mas, é melhor perguntares outra vez, respondeu o Tone Paquete.
Ò juventude “tanque iu”  (Thank you) querem mais um prato perguntou o Chana!
Yes, more, more… !
Tone, “Yes” é sim , em português?
Seu “morcão” não sabes que é, respondeu o Tone ao Rogério…
Os jovens comeram mais uma pratada  de arroz de tamboril, perante o desespero do Pezinho e do Chana que estavam a ver o “fundo da panela”….
 E agora o que vamos comer Tone, pois estes “desgraçados” comeram-nos o arroz todo?
O Arrebita com a barriga cheia, já dormia na proa, ressonando ! Até as gaivotas, que estavam a comer tripas de tamboril,  se assustaram…
O Tone Paquete, com a panela vazia, atirou-a pelo convés que deslizou até à proa, quase atingindo o Arrebita que continuava a dormir profundamente.
O Quico perante tanta confusão   e  desespero dos “esfomeados” olhou, da casa do leme, para os dois  amigos que continuavam a resmungar  e disse-lhes:
 Pezinho e Rogério, em terra vamos comer ao restaurante porque os ingleses pagam…
O  Tone Passarinho, o Agostinho, o “Arrebita” olharam uns para os outros e nem queriam acreditar!  Vão para o restaurante encher o “bandulho” e nós aqui,  lastimaram todos eles!...
  O Quico  apressadamente, saiu da motora “Mar obedece a Jesus” olhou para a tripulação e disse-lhe:
 “Gude vai”  - Good bye- amigos, acenou o Quico com o seu boné  e fiquem  a fazer a digestão do tamboril…

“Pescador de histórias”