ESPOSENDE E O SEU CONCELHO


sábado, 26 de abril de 2014

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

CANTINHO DOS LOBOS DO MAR por Carlos Barros

Bajão,  o afogado!...
  O antigo salão dos Bombeiros de Esposende, era um espaço de lazer e de convívio de muitos esposendenses que desfrutavam desse local privilegiado para ver televisão, jogar damas, xadrez, “snooker”, bilhar livre, cartas-sueca-“loba”,” King”-, dominó, sendo o senhor António da Assembleia o responsável, espécie de um “mordomo”, sempre atento, com o seu  olhar “atemorizador” e de respeito. Eram poucos, os que  ousavam entrar, no salão sem ser sócio porque o senhor António punha-os logo em “marcha rápida” pela longa escadaria de madeira,  de acesso ao salão, com a respectiva parede repleta de quadros dos pescadores de Esposende mais antigos: Piloto da Frita, Zé Grande,  Laurisá, …
  Pela tardinha, o Carlinhos da Jandira estava a jogar damas com o João Carlos Silva, numa partida bem disputada já com o Carlinhos cheio de damas e o seu opositor a coçar a cabeça, com o jogo perdido.  Junto à janela da varanda, o senhor Praia disputava o seu histórico duelo de damas com o senhor Carvalho, relojoeiro da Rua Direita, com o senhor Mário Belo e o Edgar a assistirem ao espetáculo “damístico”. Mais ao lado, jogava-se bilhar livre entre o Albaninho “Penico” e o Albininho de Gandra, com o Tonho e o Tozé Reis à espera  que o jogo acabasse para  jogarem a sua bilharada.
  O “snooker” estava sem clientes  a sua ocupação era mais aos sábados e domingos à tarde e em pleno jogo, os jogadores estavam sempre à espreita no “contador” porque as moedas eram escassas e os trocos contavam-se….
 Nesse momento, o ambiente dos bombeiros foi alterado e agitado, com o toque da sirene, sinal de afogamento e o João Carlos, bombeiro voluntário sempre ativo, saltou da cadeira, como um ágil lince, levantou a mesa onde estava o tabuleiro das damas, com as pedras a rolarem pelo chão em diversas direcções, e foi para o local do afogamento, perante o olhar estupefacto e desesperado do senhor António da Assembleia… O Carlinhos, limitou-se a apanhar as pedras espalhadas pelo chão, uma vez que o senhor António já estava prestes a lançar o ralhete da ordem...
  A ambulância Chevrolet NM-12-89, -relíquia nacional- saiu a “grande velocidade” para socorrer uma vítima que estava prestes a afogar-se:
  O Chico Bajão, com os seus trinta e quatro anos, foi nadar para o Rio Cávado, junto ao matadouro onde havia alguns poços traiçoeiros e, como nadava muito pouco, foi arrastado pela corrente e começou a deslizar  pelos fundos arenosos do leito do rio.
  O João Carlos saltou para um barco à procura do Chico e lançou-se à água e conseguiu, após porfiados esforços, amarrar a vítima, puxando-o para dentro do barco, já muito desfalecido e inconsciente, pois tinha permanecido dentro da água, pelo menos, durante dez longos minutos.
  O Chico foi colocado numa maca e transportado para o Hospital Valentim Ribeiro e, posteriormente, para  o Hospital de Barcelos, onde esteve um mês em ”coma”, sendo o diagnóstico dos médicos muito reservado.
  O amigo Chico conseguiu, milagrosamente,  recuperar  e actualmente faz uma vida normal, deslocando-se na sua motorizada, pelo concelho de Esposende, sempre à procura de novas aventuras. Nas garraiadas em Vila Chã, Santarém e Ribatejo, o Chico esteve presente em muitas delas, assumindo atos de coragem perante as investidas dos touros e tem ganho muitas apostas nessas garraiadas, apesar de já ter partido várias  “costelas”…
 Numa garraiada em Vila Chã, em plena festa de S. Lourenço, o Chico, incentivado pelo Adelinho Vilas Boas, foi enfrentar um touro, não muito corpulento, respondendo a uma aposta da Comissão de Festas e ganhou cinco contos  mas as mazelas ficaram: sete costelas partidas e uma “hospedagem” no hospital…
  O Chico, homem humilde e brincalhão, aparece muitas vezes na lota de Esposende, sendo pessoa muita grata já que nunca mais se esqueceu do Dr. João Carlos que lhe salvou a vida, junto ao matadouro e os galos que gentilmente lhe ofereceu, como gratidão, jamais pagará a vida, que lhe foi salva pelo corajoso João Carlos, cardiologista esposendense  de renome, que os esposendenses muito se orgulham.

  O Chico Bajão nunca mais deu um mergulho no rio, apenas nada nas piscinas, mas com a água pelo peito…..

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