ESPOSENDE E O SEU CONCELHO


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Carlos Barros - Cantinho dos Lobos do Mar - O tio David, turista..!


 O tio David,  turista...!

   Estavamos no mês de janeiro, em mil novecentos e setenta e oito e,  em Esposende, os pescadores já estavam na faina da pesca à lampreia, com rede, bicheiro,  galheiro ou rede, com a  “estacada”  em descanso, junto à foz com  as suas lanternas a iluminar a superfície das águas, procurando o tão desejado ciclóstomo.
   O Santos, filho da Delfino Ceareiro e da tia Maria Fifas,  e o Tone Miquelino, filho do Miquelino e da  tia Adelaide,   “lampreieiros” astutos, estavam na foz com os seus galheiros e já tinham apanhado uma “manada” delas, colocando-as  dentro de uma saco de malha, fechadinho não fosse o cão, caça-lampreias  do  Lima roubá-las, um canino treinado  nesses “desvios”….
   O Tio David era uma velha “raposa “ do rio e  pescava, nesta época,  lampreias mas, ultimamente andava um pouco em descanso, e não estava prestes a “vergar a mola” porque a vida são “sete dias”, como dizia o velho e  manhoso  mestre David, que era um pescador especial, perito na pesca dos irões e das solhas.
   Nessa manhã, o Tone Miquelino,  viu o tio David com a” ponteira” às costas e perguntou-lhe:
  Para onde vai Tio,  com a ponteira, feito turista, num dia tão bom para apanhar irões nos carreiros?
  Ó  tio David,  você é que é tolo , vir a esta hora apanhar lampreias, neste sítio que não tem dado nada e  já sabe que  não tem paciência para andar à lampreia, acrescentou o Santos, rindo-se para o Tone Miquelino que lhe piscava o olho!
   Olhai seus “marmelos” vocês não percebem nada disto e sabem porque venho com o galheiro às costas, seus morcões?
  Não, não sabemos responderam  prontamente os dois amigos ao tio David que estava fardado à pescador com botas de água, verdinhas e  com um grande casacão de xadrez.
  Eu vou explicar, dizia ele: Eu gosto muito de “cozido à portuguesa” e a minha mulher quando me vê  ir  à lampreia , vai-me buscar logo um “cozido à portuguesa” ao Zé Arménio e é por isso que venho com a “ponteira” às costas para” fazer de conta”,  porque o galheiro fica a descansar nas dunas, perto do bar da praia.
  Eu quando chegar a casa , meu sobrinho Tone, o cozidinho vai estar na mesa e vou comê-lo  que me vai saber tão  bem, respondeu com ar  de convencido o tio David!
  Passadas umas horas, o Tio David regressou a casa e a mulher perguntou-lhe pelas lampreias e ele  muito atrapalhado e a gaguejar , disse-lhe  que o mar estava a descabeçar-vazar- e as lampreias tinha ido todas para o mar e  foi uma manhã  “lisinha”…
Eu até chorei,  podes crer mulher!...
   Ó homem, não faz mal, anda  mas  é  comer o “cozido à portuguesa “que já está na mesa, com um copinho de vinho Felgueiras, comprado no Areias. Vai-te saber pela alma mas, atenção, ameaçou a mulher do Tio David:
- Para a próxima vez que não trouxeres  lampreia, não há “cozido à portuguesa” e não me venhas com desculpas ameaçou a mulher do tio David, em frente dos filhos que já estavam à mesa a comer o “caldo” com umas iscas de bacalhau, compradas na Nazaré, e arroz, um pouco estorricado.
O Tio David, pensou, para os seus botões:
P´ra próxima não  me “safo” e tenho que trazer  umas lampreias à minha mulher,  nem que as  tenha de roubar aos Santos ou ao meu Sobrinho Tone Miquelino!...

História contada pelo Santos Coutinho, no dia 20 de Fevereiro de 2013, pelas 11.35, horas no Café Oliveira-Esposende.
CMLB

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