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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

AUTO DO FIM DO DIA

António Corrêa D'Oliveira

Minha terra, quem me dera
Ser humilde lavrador.
Ter o pão de cada dia,
Ter a graça do Senhor:
Cavar-te, por minhas mãos,
Com caridade e amor.


Minha terra, quem me dera
Ser um Poeta afamado.
Ter a sina de Camões,
Andar nas naus embarcado:
Mostrar às outras nações
Portugal alevantado.


Minha terra, quem me dera
Poder ver-te d’um sertão;
Ter-te longe dos meus olhos,
Pertinho do coração:
Para amar-te mais, podendo,
Que me parece que não.


Minha terra, quem me dera
Ser um nauta assinalado;
Passar trabalhos no mar,
Ir à guerra, ser soldado:
Dar por ti todo o meu sangue
De Portuguez desgraçado.



D’OLIVEIRA, António Corrêa. Auto do Fim do Dia. Paris-Lisboa: Livraria Aillaud e Bertrand, 1900.
Acervo do editor.

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